o folhear antes dos olhos fecharem
vendo e ouvindo aquilo que não está lá
desconhecendo sons conhecidos em harmonias intocáveis
confundo a voz que ri e responde sem falar mais
a companhia abraçada às escuras escapando atrás
àquilo que é real não existindo
são só degraus que não se completam
do que sei sentir melhor que falar
até algum dia em algum fim da espiral
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e então esses momentos não duram mais
quase um segundo sem respirar entre duas noites
ou noites que duram e duram sem respiro
e me acostumam a tentar se acostumar
a sempre lembrar que não estou mais neles
mas sempre lembrar que ainda estão em mim
e sei que não é assim
mas não posso deixar de pensar
que o que sinto preferia não sentir
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talvez o cuidado e o alcance sejam menores que a intenção
de um abismo enxergar e inverter outro
de estender a mão por veios maiores que as veias
talvez não haja mesmo de fora uma visão agradável
mas nem o céu visto do interior desse fundo brilha mais
nem as paredes às voltas sustentam qualquer sulco cansado
talvez o naufrágio seja só condenação ao coração do oceano
sem saber se afundei de pé nas quebras ou continuei
afogado nas mesmas águas profundas de você
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até que no coração só ecoa
que o céu cantou como eu soube que você cantaria
que deixei morrer algo pelo qual mais tenho carinho
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"confusão também é companhia até certo ponto. melhor esperança adiada que nenhuma. até certo ponto. até o coração começar a desgostar-se. companhia também até certo ponto. melhor um coração desgostoso que nenhum. até começar a partir-se."
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não que não existam sorrisos sem lágrimas
mesmo que às vezes não venha nenhum
mas no fim de tudo é o que parece
das flores que crescem de ruínas
ou das ruínas das flores que amo
de um cuidado que sabe demais machucar
pode ser que ainda aprenda conforto e contato
mas é bom saber que existe felicidade
mesmo quando não consigo sentir