1. |
I
07:18
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“você vai se machucar”
não é a primeira vez que me ouço falando isso
não é a primeira vez que isso acontece
vi o que estava chegando
menti sobre o que queria
me enganei outra vez
torço para estar errado
para não ter entendido o que houve
para estar vendo tudo distorcido
para que as coisas não tenham chegado a esse ponto
sei onde errei e sei o que deveria ter feito
mas a pior certeza é a de que não vai haver outra chance
preciso me livrar dessas preocupações
preciso me livrar desse medo
preciso que essas lembranças não doam mais
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2. |
II
18:52
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é excruciante dizer essas palavras agora
no lugar de outras em outros momentos
e admitir que talvez não tenha algum melhor a dar
e só tentei de verdade quando já estava perdendo
deixei que fosse assim
o monopólio da culpa é meu
eu sinto pelo que aconteceu
eu sinto muito
eu sinto mais do que eu gostaria
digo que essas coisas não se repetirão
para que possam voltar a acontecer
me alimento da culpa
deixo que a esperança me arraste
pela lembrança do que foi falado
pelo peso daquilo que nunca foi
palavras que falham
e não significam nada
do arrependimento que dilacera por dentro
quando meus erros se consumirem
e sua ausência me purgar de controle
quando a distância for maior que a dor
e o tempo deixar fingir que esqueci
eu vou me aproximar
e vou me queimar de novo
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3. |
III
16:57
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o folhear antes dos olhos fecharem
vendo e ouvindo aquilo que não está lá
desconhecendo sons conhecidos em harmonias intocáveis
confundo a voz que ri e responde sem falar mais
a companhia abraçada às escuras escapando atrás
àquilo que é real não existindo
são só degraus que não se completam
do que sei sentir melhor que falar
até algum dia em algum fim da espiral
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e então esses momentos não duram mais
quase um segundo sem respirar entre duas noites
ou noites que duram e duram sem respiro
e me acostumam a tentar se acostumar
a sempre lembrar que não estou mais neles
mas sempre lembrar que ainda estão em mim
e sei que não é assim
mas não posso deixar de pensar
que o que sinto preferia não sentir
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talvez o cuidado e o alcance sejam menores que a intenção
de um abismo enxergar e inverter outro
de estender a mão por veios maiores que as veias
talvez não haja mesmo de fora uma visão agradável
mas nem o céu visto do interior desse fundo brilha mais
nem as paredes às voltas sustentam qualquer sulco cansado
talvez o naufrágio seja só condenação ao coração do oceano
sem saber se afundei de pé nas quebras ou continuei
afogado nas mesmas águas profundas de você
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até que no coração só ecoa
que o céu cantou como eu soube que você cantaria
que deixei morrer algo pelo qual mais tenho carinho
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"confusão também é companhia até certo ponto. melhor esperança adiada que nenhuma. até certo ponto. até o coração começar a desgostar-se. companhia também até certo ponto. melhor um coração desgostoso que nenhum. até começar a partir-se."
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não que não existam sorrisos sem lágrimas
mesmo que às vezes não venha nenhum
mas no fim de tudo é o que parece
das flores que crescem de ruínas
ou das ruínas das flores que amo
de um cuidado que sabe demais machucar
pode ser que ainda aprenda conforto e contato
mas é bom saber que existe felicidade
mesmo quando não consigo sentir
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